segunda-feira, 23 de novembro de 2009

[CRÍTICA] Lunar (Moon, 2009)

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Dirigido por: Duncan Jones
História: Duncan Jones
Roteiro: Nathan Parker
Elenco: Sam Rockwell, Kevin Spacey, Dominique McElligott, entre outros
Trilha sonora: Clint Mansell


Escrever uma crítica sobre Lunar é uma tarefa um tanto complicada, pois trata-se de uma ficção científica cheia de pequenas viradas e surpresas que, se descobertas antes de assisti-lo, pode acabar com boa parte da graça. Mas, eu gosto de um desafio, então vamos a ele.

De início descobrimos que a história se passa num futuro próximo, onde a crise energética é um problema mundial ainda mais preocupante, e a humanidade se vê forçada a correr atrás de outras fontes de energia. É então que algum espertinho levanta a mão e pergunta: se a Terra não tem muito a oferecer, por que não apelar pra Lua?

A introdução trata de dar uma aulinha básica de como funciona o processo: montam por lá uma base de extração de rochas lunares, escavadeiras "raspam" a superfície da Lua, as rochas são empacotadas e enviadas pra Terra, onde uma usina extrai a energia solar que se acumulou no interior delas ao longo de milhões de anos. Ou seja, basicamente é o mesmo que fazemos pra extrair a energia armazenada na madeira ao queimá-la.

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Lunar é o nome da empresa responsável pela extração. Ela envia um funcionário que cuidará da manutenção de toda a base sozinho durante 3 anos. Encerrado esse período o contrato firmado entre a Lunar e o operador é cumprido, e o sujeito ganha o direito de voltar pra casa. É neste ponto que encontramos o protagonista, Sam Bell.

Nos primeiros vinte minutos do filme, através de uns poucos flashbacks, e algumas mensagens de vídeo enviadas a ele pela esposa, descobrimos que seu relacionamento com ela não andava bem das pernas e que os dois tiveram uma filha antes de sua ida pra Lua. Assim, seu "exílio" serviu pra eles "darem um tempo", no que ela o incentivou, acreditando que o ajudaria a refletir sobre o rumo que gostaria de dar ao seu casamento quando retornasse. Três anos depois, e disposto a recomeçar da melhor forma possível, Sam não vê a hora de voltar pra casa, para os braços da esposa e da filha.

Chama atenção o cuidado na criação de pequenos detalhes que demonstram a preocupação de Sam em não se deixar abalar pela situação em que se encontra há 3 anos. Por exemplo, a fim de não se perder e nem se deixar perturbar pela monotonia visual da base, ele dá nomes de pessoas às muitas partes de GERTY, o supercomputador que monitora todas as atividades da base, fingindo que são seus companheiros de trabalho.

Além disto, para não deixar que a solidão o afundasse numa depressão severa, Sam começou a bater altos papos com GERTY, que é dotado de inteligência artificial (voz de Kevin Spacey). Ainda arrumou um jeito de ocupar sua cabeça na construção de uma maquete da cidade onde morava, e no cultivo de plantas numa pequena estufa, com as quais também troca umas idéias.

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As conversas triviais com as plantas também são outro indício deste cuidado, soando divertido o momento em que ele tenta ignorar um determinado personagem trocando fofocas sobre o "interesse romântico" de uma delas.

Outro ótimo acerto do filme é a composição visual da principal personificação de GERTY, que exibe a todo momento emoticons básicos (destes de MSN mesmo) correspondentes ao sentimento que deseja imprimir em cada fala no pequeno monitor que traz em seu corpo robótico, dando um toque de ironia até mesmo nos momentos mais dramáticos. E a voz monocórdica usada por Kevin Spacey soou perfeita tanto para o papel em si, como para que o personagem remetesse a outro supercomputador famoso da ficção científica cinematográfica.

Mas o drama de Sam, há poucos dias de completar os 3 anos exigidos por seu contrato com a Lunar, é o foco principal de toda a história do filme. Quando fatos estranhos começam a ocorrer dentro e fora da base onde trabalha, interferindo em sua rotina, e levando-o a questionar até que ponto conseguiu preservar sua sanidade ao longo dos anos, é que a trama de Lunar engrena pra valer.

E é neste ponto que entra outro elemento importantíssimo para a construção do ótimo suspense psicológico que percorre todo o filme: a trilha sonora de Clint Mansell. Responsável pela icônica trilha sonora de Réquiem Para Um Sonho (que considero uma das mais marcantes já compostas), Mansell criou músicas que se integram perfeitamente à trama de Lunar, hora melancólica, hora contemplativa e, quando necessário, perturbadora e inquietante, o trabalho do compositor se mostra em perfeita sintonia com o clima que Duncan Jones visa transmitir ao espectador, sendo um dos grandes destaques de Lunar.

Sam Rockwell faz um ótimo trabalho, que não chega a ser genial e soberbo, como muitos estão dizendo por aí, e duvido muito que ele chegue a concorrer a um Oscar, embora não descarte a possibilidade de levar alguns prêmios de menor e médio porte nos próximos meses. Trata-se de um ator que sabe interpretar muito bem personagens excêntricos, e a situação um tanto insólita na qual se encontra seu "xará" ficcional combina bem com seu estilo de interpretação um tanto imprevisível.

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Merece também elogios a maneira como a história brinca com as convenções do gênero, sugerindo muitas vezes que veremos mais uma idéia batida sendo abordada, apenas para nos surpreender com uma solução que vai muitas vezes totalmente contra a expectativa criada.

Inteligente também é a decisão tomada pelo roteirista, que "diluiu" a solução do mistério ao longo do filme, ao invés de optar por explicá-lo de uma vez só no final, tentando surpreender através do choque. Não há grandes revelações em Lunar, mas sim respostas que chegam a cada passo dado por Sam em busca de uma compreensão maior de sua condição, e um meio de escapar dela. Assim, tudo se constrói aos poucos, não rumo a um final apoteótico e epifânico, mas a uma solução lógica e elegante ao problema enfrentado.

Vale ainda mencionar as muitas referências que Lunar faz a outras obras de ficção científica. Há elementos que remetem ao clássico absoluto do gênero, 2001 - Uma Odisséia no Espaço, outros que lembram Wall-E, e homenagens às obras de Isaac Asimov, especialmente Eu, Robô (o livro, não o filme mediano com Will Smith), entre outras que dá pra encontrar assistindo-o com mais atenção. Deixo por conta de cada um essa tarefa.

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Lunar ainda abre espaço para algumas indagações: Até que ponto nossas memórias definem quem somos? Há um limite a partir do qual a natureza humana pode ser explorada? Cabe a quem decidir se a liberdade de um homem será sacrificada em prol de um "bem maior"? Quando o emprego "extremo" da engenharia genética se torna válido? Entre muitas outras, que caberá a cada espectador extrair do longa.

Concluindo, trata-se de um ótimo filme, modesto em sua execução, sem grandes efeitos especiais, mas competente, e até certo ponto ousado em sua execução, quando comparado à grande maioria do que andam produzindo para o gênero nos últimos anos. Esqueçam Distrito 9! Lunar é o filme para apreciadores de ficção-científica inteligente!

Se ainda restam dúvidas se vale ou não a pena assisti-lo, confira o trailer abaixo:

3 comentários:

  1. "Esqueçam Distrito 9! Lunar é o filme para apreciadores de ficção-científica inteligente!"

    Este comentário nao me parece nada inteligente, pois o que ganhamos colocando um filme contra o outro e utilizando o operador logico exclusivo 'ou' fazendo uma competiçãozinha inócua que nao acrescenta nada a nenhum dos dois filmes citados?

    Os dois são bons e a burrice é colocar um contra o outro, afinal, será que você, com a sua "inteligencia", seria capaz de filmar um filme melhor do que Distrito 9?

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  2. não nascemos e nem morremos, não temos começo e nem fim, como uma familia que nós somos nos relacionamos,

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